O que é Transformação Digital
Introdução
Na atualidade, sobretudo no pós-pandemia, a expressão Transformação Digital passou a ser amplamente utilizada, porém em diversas oportunidades, associam o termo a um “conjunto de avanços tecnológicos, que possibilitaram à humanidade, continuar realizando a maior parte de suas atividades pessoais ou profissionais à distância”.
Na verdade, essa interpretação simplificada não passa de uma pequena parte do resultado gerado pela Transformação Digital uma vez que o seu real conceito transcende tecnologia e ferramental.
Nesse post, vamos apresentar uma visão ampla do conceito, mostrar a amplitude além dos aspectos técnicos e principalmente como ela pode ser aplicada nas empresas.
Conceito
Podemos conceituar transformação digital como uma
“ação organizacional continuada de melhoria da entrega do valor, com utilização de recursos de tecnologia digital“
- É “… continuada …” pois
- não pode ser considerada um movimento;
- o mercado e a tecnologia estão em constante mudança;
- a transformação nunca está concluída;
- “… melhoria na entrega de valor …” pois precisa ser
- mais rápido, mais fácil e mais barato;
- com maior qualidade;
- eficiente, resolver problemas e atender anseios;
- “… recursos de tecnologia digital …” pois é necessário
- aproveitar recursos tecnológicos para alavancar a adição de valor;
Pilares da Transformação Digital
Entregar valor ao cliente é o principal impulsionador da transformação digital. Entender as necessidades do cliente e utilizar tecnologia para criar experiências personalizadas, causam satisfação à medida que se tornam convenientes e eficientes.
De acordo com a Transformação Digital, a agregação de valor ao cliente é facilitada quando a organização é proficiente nos seguintes pilares:
- Lean – organização enxuta e simples;
- Agilidade – a organização tem gestão adaptativa que permite aumento da velocidade frente às pressões do negocio;
- Cultura de experimentação – a organização é inovadora em processos, operações e modelos de negócios;
- Foco em fluxo: a organização possui uma cadeia de valor unificada (sem silos organizacionais)
Lean
“Lean” é uma abordagem de gestão, originária do sistema de produção da Toyota, que se concentra na criação de valor para o cliente, eliminando desperdícios e melhorando a eficiência dos processos. Na transformação digital, o Lean é utilizado com as seguintes diretrizes:
- O valor sempre é definido pelo cliente;
- O valor é gerado por um produto ou por um serviço;
- Todo valor é agregado através de um fluxo;
- Desperdícios prejudicam o valor, e por isso, deve sempre ser eliminados;
- O fluxo deve ser melhorado continuamente;
- O fluxo é puxado por necessidades do ambiente;
“Fluxo puxado” é um conceito de Lean onde a produção é direcionada pela demanda. De maneira oposta, o “Fluxo empurrado” é um conceito onde a produção é direcionada conforme previsões ou planejamentos.
Para exemplificar a aplicação do Lean, podemos imaginar o processo de pagamento de um boleto bancário na década de 1990. O boleto precisava ser impresso e enviado pelo correio. O sacado recebia o boleto e precisava ir até uma agencia bancária, enfrentar filas para pagar o boleto no caixa. Após o pagamento, esse boleto era direcionado para a compensação e em 24 horas o dinheiro era transferido para o emitente do boleto via banco.
Na atualidade, um boleto não precisa ser mais impresso (eliminou desperdício de papel e entrega), o sacado não precisa ir ao banco (eliminou desperdício de tempo) e o emitente recebe o dinheiro instantaneamente (eliminou desperdício com esforço de compensação e tempo). Toda essa simplificação é resultado de um Lean que claramente agregou valor ao sacado, ao emitente do boleto e ao banco. Tanto no processo da década de 1990 como no processo atual, “pagar um boleto” sempre seguiu um fluxo bem definido.
Agilidade
Quando se fala em agilidade, a primeira ideia que surge na cabeça do leitor mais leigo está ligado à “entrega mais rápida”. Mas não é bem assim. Na época da publicação do manifesto ágil, a empolgação levou muitas literaturas à, equivocadamente, conclamar a agilidade como uma forma “de entregar o dobro na metade do tempo”.
Na verdade, as metodologias ágeis surgiram como uma contraposição à abordagem waterfall tradicional. Não existe uma metodologia melhor ou pior. Existe uma metodologia mais adequada para cada situação.
É importante relembrar que a abordagem waterfall tradicional surgiu na engenharia, onde projetos produzem produtos “complicados”, ou seja, produtos que demandam esforço especializado, cujo escopo é conhecido à priori. O produto sempre é entregue ao final do projeto.
Já em TI, identificou-se que o cliente (ou o usuário) nem sempre “sabe o que quer” quando contrata um projeto. Muitas vezes o produto vai sendo concebido durante a execução do projeto, ou seja, produtos de TI são “complexos” pois o escopo não é conhecido à priori.
Com o tempo, os profissionais de TI começaram a questionar a eficiência da metodologia waterfall tradicional na construção de produtos “complexos” pois, “se o cliente não sabe o que quer à priori, como é possível ter certeza que o produto a ser entregue no final do projeto é adequado ao anseios do cliente?“
É exatamente nesse ponto que as metodologias ágeis possuem uma imensa vantagem em TI: o cliente que “não sabe o que quer” pode validar, em cada entrega parcial, se o produto está adequado às suas necessidades. Se não estiver, é possível ter um pequeno retrabalho para redirecionar o escopo.
Mas como a transformação digital usa a agilidade como um dos seus pilares?
“A agilidade é usada para buscar respostas rápidas à mudança, obtendo lucro em um ambiente de negócio truculento”
Na transformação digital, a agilidade é utilizada com as seguintes diretrizes:
- agilidade pressupõe flexibilidade a mudanças;
- agilidade possibilita entregas parciais, onde o feedback deve ser coletado;
- o escopo deve ser ajustado, baseado no feedback do usuário;
- entregas parciais devem ser realizadas em ciclos curtos de desenvolvimento e cada entrega deve gerar valor ao produto;
- todas as entregas devem ser focadas em versões operacionais do produto (software rodando em detrimento de documentação, cronograma, protótipo ou cerimônias);
Inovação (Cultura da Experimentação)
A cultura da experimentação é um ambiente organizacional que incentiva a “tentativa e erro”, promovendo a inovação e a aprendizagem contínua. Esse incentivo busca insights valiosos para que processos possam ser melhorados, produtos possam ser idealizados e, por consequência o crescimento possa ser impulsionado.
Como um pilar da transformação digital, a cultura da experimentação precisa ser estimulada. Nesse sentido, as seguintes diretrizes devem ser observadas:
- existe a necessidade de coleta de ideias através de processo estruturado de tratamento de iniciativas;
- as diversas áreas da organização devem utilizar técnicas de inovação para estimular a contribuição;
- existe a necessidade de adotar uma cultura que encoraja o risco e não penalize o erro;
- a priorização das ideias deve estar alinhada aos objetivos estratégicos da organização;
- a organização deve viabilizar a experimentação, colocando as ideias em prática em um ambiente reduzido;
- a avaliação da experimentação deve ser realizada através de análises críticas com discussões colaborativas;
Foco em Fluxo
Antes de começar a falar sobro Foco em Fluxo, é necessário introduzir outros dois importantes conceitos:
Foco em projeto:
“empreitada temporária com objetivo de criar um produto”
Foco em produto:
“empreitada continua com o objetivo de criar um produto complexo cujos requisitos não são conhecidos à priori”
No primeiro, em sinergia com a própria definição de “projeto”, o foco é em uma empreitada que tem começo, meio e fim, ou seja, projetos estanques e descontinuados. No Foco em Projeto, privilegia-se indicadores do projeto, (como SPI, CPI, Change Requests), uma vez que o foco é na EXECUÇÃO visando uma entrega ÚNICA.
Já o segundo, foca em uma empreitada continua, preocupada com a geração de valor e a evolução do produto, ou seja, é uma empreitada a longo prazo sem um fim definido. O produto é continuamente melhorado e as necessidades, e requisitos do produto, vão se alterado à medida que cada entrega é realizada, pois os usuários recebem feedback constante e pode redirecionar o rumo da solução.
Quando falamos de Foco em Fluxo, estamos nos referindo a uma abordagem ininterrupta, à longo prazo, com foco em agregar valor. Em outras palavras
Foco em Fluxo
“é uma empreitada contínua, pois além da criação, contempla adaptações, melhorias e evoluções do produto”
Outra característica do Foco em Fluxo é que o time responsável pelo desenvolvimento é multidisciplinar, ou seja, tem todos os conhecimentos necessários (de diferentes áreas) para criar e evoluir o produto. Com essa formação, o “fluxo” nunca é interrompido para esperar a atuação de outras áreas. O time é focado em resolver os problemas sem pensar em devolver para o “silo organizacional” que o gerou. A equipe opera o produto que criou. Falhas ocorrem, mas o foco é “falhar rápido” e “corrigir rapidamente”, uma vez que o time detém todo o conhecimento necessário sobre o produto.
Abaixo estão ilustradas as interações de times, a primeira com Foco em projeto e a segunda com Foco em Produto
O time com foco em projeto, entrega sua parte e aguarda a devolutiva de outros times (“Silos Organizacionais”). Não existe preocupação com a evolução do produto, uma vez que ele foi definido à priori. O cliente não fornece o feedback e só consegue visualizar se o produto é adequado ao final do projeto.
O time com foco em produto é multidisciplinar, logo não depende de outros times. São realizadas diversas entregas parciais onde o feedback do cliente é coletado e novos direcionamentos podem ser realizados. O produto evolui a cada entrega e o cliente acompanha e valida toda essa evolução. Não existe um produto final, uma vez que o serviço é contínuo.
Conclusão:
Os 4 pilares da transformação digital são interconectados e interdependentes. Uma abordagem holística que abrange todos esses aspectos é essencial para uma transformação digital bem-sucedida.
Por experiência, o maior desafio está ligado à mudança na cultura organizacional. A transformação digital é muito ampla, mexe com muitos processos e muitos silos e, consequentemente, com interesses pessoais. Por esse motivo, quanto maior a organização, mais complexa é a sua implementação.